sábado, 26 de setembro de 2009

Sentido desigual

Devemos estar atentos às diferenças de sentido entre adjetivos que, às vezes, se confundem. Vejamos: a palavra normal nem sempre é bom sinônimo de comum. Em algumas situações há sutil diferença de sentido. Até porque não há sinonímia perfeita, sabemos todos. Normal é aquilo que está de acordo com a norma. Comum é o que pertence a todos ou a muitos igualmente.
A qualificação anormal costuma ser mais forte do que a de incomum. A percepção dessa diferença não é a mesma entre os adjetivos comum e normal. Mas cada um remete ao antônimo: comum/incomum; normal/anormal.
Observemos alguns exemplos de emprego indevido desses adjetivos:
É um carro de alta potência, mas serve também para um motorista normal.
Em que será diferente um motorista normal de um anormal? E um comum de um incomum? O mais conveniente é usar comum, motorista comum, porque anormal pode-nos sugerir um de quatro braços e olho no meio da testa.

Trata-se de um vinho normal.
Como será um vinho anormal? Terá 40º de teor alcoólico, em vez dos 11º a 14,5% dos comuns?Será feito de feijão fermentado? Ou custará muito caro? Como no caso anterior, melhor usar comum, que o será tanto na qualidade como no preço, se não for possível explicar no que consiste a tal normalidade.


Ele é um aluno normal.


Aluno normal? Normal no tamanho, nas dimensões, na capacidade intelectual? E se for anormal? Será um gênio com 245 de QI, ou um prejudicado com 34,5 de QI? Também aqui, melhor usar comum, designando alguém que não se distingue da maioria, apesar da imprecisão do adjetivo.



Um comentário:

  1. Adorei essa postagem, de verdade! Mas tenho que admitir que eu ri muito com as comparações. Vinho de feijão fermentado, ou motorista de quatro braços!

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Quem sou eu

Mirian Rodrigues Braga é mestre e doutora em Língua Portuguesa pela PUC/SP. Especializou-se em analisar as obras de José Saramago. Em 1999, publicou A Concepção de Língua de Saramago: o confronto entre o dito e o escrito e também participou da coletânea José Saramago - uma homenagem, por ocasião da premiação do Nobel ao referido autor. Em 2001, publicou artigo na Revista SymposiuM da Universidade Católica de Pernambuco. Atuou como professora-assistente no Curso de Pós-Graduação lato sensu da PUC/SP. É professora de Língua Portuguesa e Redação no Ensino Médio e Curso Pré-Vestibular do Colégio Argumento.