segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Epônimos

Os epônimos são palavras ou expressões inspiradas em nomes de pessoas. Eles são linguisticamente úteis, pois no dia a dia os usuários precisam de "ganchos" para não usar o nome completo de um indivíduo nas suas interações. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, cuja nova edição foi lançada este ano pela Academia Brasileira de Letras, legitima epônimos como " lulista" ou " lulismo " para descrever características ligadas à pessoa, aos simpatizantes ou à política do presidente Luiz Inácio da Silva.
Os epônimos distinguem-se do vocabulário geral de um idioma, pois um dado usuário, num dado momento, cunha uma palavra para referir-se a um indivíduo, criando um neologismo. É um tipo de neologismo que nem os críticos mais nacionalistas teriam coragem de atacar com base na tese de invasão cultural, já que preenche uma lacuna no idioma. Assim, em vez de dizer José Serra, Guimarães Rosa ou Dante Alighieri, podemos usar " serrista" ou "serrismo", " a obra rosiana" ou " um cenário dantesco".

Alguns dos epônimos que foram " emprestados" de outras línguas nasceram nos tempos bíblicos ( jerimiada, salomônico, matusalênico), outros da mitologia grega (espada de Dâmocles, narcisismo) e muitos devem sua presença, na escrita, a avanços técnico-científico: galvanismo ( Luigi Galvani, 1739-1798), contador de Geiger ( Hans Geiger, 1882-1945), e todos eles contribuem para enriquecer o idioma.
Embora a maior parte dos epônimos nos dicionários de português sejam de origem estrangeira, há os brasileiros. Nem todos se lembram do aparelho inventado por Manuel de Abreu ( 1894-1962), que fixou, por máquina fotográfica, uma imagem radioscópica para diagnosticar a existência precoce de tuberculose ou de câncer pulmonar. Muito comum nas décadas de 60 e 70, a exigência de uma "abreugrafia" para a obtenção de um emprego foi suspensa nos anos 80 devido ao perigo para a saúde da radiação mesmo em pequenas doses.
O estudo do epônimo é importante na língua portuguesa, pois os autores de textos literários, de crônicas e ensaios de revistas e periódicos e até os editoriais de jornais recorrem aos epônimos e às alusões clássicas, bíblicas e literárias. As expressões eponímicas são marcas do bom escritor quando usadas adequadamente num texto.
Quer saber mais: www.revistalingua.com.br

Um comentário:

  1. Prezada professora Mirian
    Considero excelente a matéria.
    Tomo a liberdade citar outro epônimo: maquiavélico relativo a Maquiavel, Nicolau Maquiavel o filósofo de Florença considerado o pai do pensamento polític moderno. O curioso é que o termo "maquiavélico" acabou tornando-se um adjetivo. As más interpretações da obra desse grande humanista da renascença ajudaram a forjar a visão do maquiavelismo como pensamento do engano, da trapaça. A obra "O Príncipe" foi inscrita no Index Librorum Proibitorum durante a contrarreforma. Os teólogos se chocaram com suas idéias a respeito do funcionamento do poder e a tomaram como uma ameaça para os valores cristãos vigentes. Atualmente os estudiosos do tema questionam: Maquiavel era maquiavélico? A indagação suscita a curiosidade e nada melhor como a leitura a obra. O texto semeia. A leitura insemina.

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Quem sou eu

Mirian Rodrigues Braga é mestre e doutora em Língua Portuguesa pela PUC/SP. Especializou-se em analisar as obras de José Saramago. Em 1999, publicou A Concepção de Língua de Saramago: o confronto entre o dito e o escrito e também participou da coletânea José Saramago - uma homenagem, por ocasião da premiação do Nobel ao referido autor. Em 2001, publicou artigo na Revista SymposiuM da Universidade Católica de Pernambuco. Atuou como professora-assistente no Curso de Pós-Graduação lato sensu da PUC/SP. É professora de Língua Portuguesa e Redação no Ensino Médio e Curso Pré-Vestibular do Colégio Argumento.