quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A redação ideal para o ENEM

O momento ansiosamente esperado está chegando. Finalmente, no próximo final de semana o ENEM mostra sua cara!
Aí vai minha sugestão para uma redação que se aproxima da idealizada pelo ENEM:
- a temática mais voltada para o social propõe abordagens como violência, política e educação. O candidato não pode se esquecer dos cinco conceitos explorados na prova objetiva, que, justamente, são os principais pontos que diferenciam essa prova das demais;
- ainda que tenha uma estrutura semelhante às redações de outros vestibulares, o texto a ser redigido na prova do ENEM exige raciocínio mais homogêneo e completo, isto é, o aluno deve saber perceber os acontecimentos como um todo, não como informações isoladas;
- quanto ao domínio da linguagem, aplicada à redação, significa fazer uso da norma culta da língua, já que serão cobrados alguns aspectos linguísticos, tais como concordância verbal e nominal, pontuação, ortografia e acentuação;
- é fundamental compreender a proposta e aplicar conceitos conhecidos para desenvolver o tema. Para isso, o candidato deve saber selecionar e hierarquizar o seu conhecimento;
- é preciso saber construir um argumento consistente e defender um ponto de vista;
- ao desenvolver o tema apresentado, o candidato deve incluí-lo num contexto de diversidade cultural e respeito aos valores humanos e apresentar propostas de intervenção solidária efetiva.
Em síntese, o que o ENEM espera do candidato é que ele se mostre um cidadão que reflete sobre os problemas que afetam a sociedade, e, portanto, desenvolva uma opinião e aponte soluções.
Boa sorte a todos. E.. beijos em seus corações.

sábado, 26 de setembro de 2009

Sentido desigual

Devemos estar atentos às diferenças de sentido entre adjetivos que, às vezes, se confundem. Vejamos: a palavra normal nem sempre é bom sinônimo de comum. Em algumas situações há sutil diferença de sentido. Até porque não há sinonímia perfeita, sabemos todos. Normal é aquilo que está de acordo com a norma. Comum é o que pertence a todos ou a muitos igualmente.
A qualificação anormal costuma ser mais forte do que a de incomum. A percepção dessa diferença não é a mesma entre os adjetivos comum e normal. Mas cada um remete ao antônimo: comum/incomum; normal/anormal.
Observemos alguns exemplos de emprego indevido desses adjetivos:
É um carro de alta potência, mas serve também para um motorista normal.
Em que será diferente um motorista normal de um anormal? E um comum de um incomum? O mais conveniente é usar comum, motorista comum, porque anormal pode-nos sugerir um de quatro braços e olho no meio da testa.

Trata-se de um vinho normal.
Como será um vinho anormal? Terá 40º de teor alcoólico, em vez dos 11º a 14,5% dos comuns?Será feito de feijão fermentado? Ou custará muito caro? Como no caso anterior, melhor usar comum, que o será tanto na qualidade como no preço, se não for possível explicar no que consiste a tal normalidade.


Ele é um aluno normal.


Aluno normal? Normal no tamanho, nas dimensões, na capacidade intelectual? E se for anormal? Será um gênio com 245 de QI, ou um prejudicado com 34,5 de QI? Também aqui, melhor usar comum, designando alguém que não se distingue da maioria, apesar da imprecisão do adjetivo.



domingo, 20 de setembro de 2009

Inventando o Hino Nacional

Nesta semana, a cantora Vanusa ressurgiu das cinzas quando interpretou, de modo inusitado, o Hino Nacional Brasileiro em uma cerimônia na Assembleia Legislativa de São Paulo. Para não esquecermos tão "memorável" momento, o vídeo do acontecimento tem corrido pela internet. A voz da cantora mostra-se arrastada, e a certa altura, atrapalha-se e mistura a letra de alguns versos de nosso hino, provocando um estranho resultado.
O que eu gostaria de registrar é o fato de que o inalcançável significado das palavras e a sonoridade que desassocia a melodia da letra transfere-nos para um universo em que a realidade se perde numa nebulosa onírica. Tal ocorrência remete-nos ao chamado jabberwocky, isto é, um texto brincalhão, composto em linguagem inventada, mas parecendo real, sonora e sem sentido.
Seja lá o que tenha acontecido no momento da interpretação da cantora, Vanusa perdeu a oportunidade de reconquistar um triunfal regresso, e o que se vê no vídeo é um efeito jabberwocky para uma multidão de brasileiros com ouvidos destreinados para os preciosismos parnasianos em que à sonoridade das palavras, contrapõe-se um misterioso significado.
Fica aqui minha sugestão: ler calmamente o Hino Nacional Brasileiro e procurar entendê-lo. (é lícito recorrer ao dicionário).

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Epônimos

Os epônimos são palavras ou expressões inspiradas em nomes de pessoas. Eles são linguisticamente úteis, pois no dia a dia os usuários precisam de "ganchos" para não usar o nome completo de um indivíduo nas suas interações. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, cuja nova edição foi lançada este ano pela Academia Brasileira de Letras, legitima epônimos como " lulista" ou " lulismo " para descrever características ligadas à pessoa, aos simpatizantes ou à política do presidente Luiz Inácio da Silva.
Os epônimos distinguem-se do vocabulário geral de um idioma, pois um dado usuário, num dado momento, cunha uma palavra para referir-se a um indivíduo, criando um neologismo. É um tipo de neologismo que nem os críticos mais nacionalistas teriam coragem de atacar com base na tese de invasão cultural, já que preenche uma lacuna no idioma. Assim, em vez de dizer José Serra, Guimarães Rosa ou Dante Alighieri, podemos usar " serrista" ou "serrismo", " a obra rosiana" ou " um cenário dantesco".

Alguns dos epônimos que foram " emprestados" de outras línguas nasceram nos tempos bíblicos ( jerimiada, salomônico, matusalênico), outros da mitologia grega (espada de Dâmocles, narcisismo) e muitos devem sua presença, na escrita, a avanços técnico-científico: galvanismo ( Luigi Galvani, 1739-1798), contador de Geiger ( Hans Geiger, 1882-1945), e todos eles contribuem para enriquecer o idioma.
Embora a maior parte dos epônimos nos dicionários de português sejam de origem estrangeira, há os brasileiros. Nem todos se lembram do aparelho inventado por Manuel de Abreu ( 1894-1962), que fixou, por máquina fotográfica, uma imagem radioscópica para diagnosticar a existência precoce de tuberculose ou de câncer pulmonar. Muito comum nas décadas de 60 e 70, a exigência de uma "abreugrafia" para a obtenção de um emprego foi suspensa nos anos 80 devido ao perigo para a saúde da radiação mesmo em pequenas doses.
O estudo do epônimo é importante na língua portuguesa, pois os autores de textos literários, de crônicas e ensaios de revistas e periódicos e até os editoriais de jornais recorrem aos epônimos e às alusões clássicas, bíblicas e literárias. As expressões eponímicas são marcas do bom escritor quando usadas adequadamente num texto.
Quer saber mais: www.revistalingua.com.br

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Matisse na Pinacoteca do Estado

Está imperdível a exposição Matisse Hoje, inaugurada dia 5 de setembro na Pinacoteca do Estado. A exposição é montada de forma simples e traz uma mescla das diferentes fases do pintor.
Matisse Hoje reúne 93 trabalhos - gravuras, pinturas, esculturas, desenhos e colagens - em torno da obra do célebre pintor francês Henri Matisse (1869-1954), que nunca havia ganhado uma individual no Brasil, e promete ser a mais importante exposição do ano.
Para evitar longas filas, a sugestão é chegar cedo. Horário: das 10h às 17h30. Até 01/11.
Vale muito a pena. Programe-se!
A Pinacoteca do Estado fica na praça da Luz, 2, Bom Retiro.

sábado, 5 de setembro de 2009

Concurso Idiomaterno

A Secretaria de Estado da Cultura, por meio da Poesis - Organização Social de Cultura e do Museu da Língua Portuguesa - promove o concurso Idiomaterno - uma definição para a Língua Portuguesa. O objetivo é revelar e premiar as dez frases originais que melhor traduzam a língua portuguesa.
As frases escolhidas serão grafadas em uma parede do Museu da Língua Portuguesa, e seus autores receberão exemplares do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, ingressos para visitarem o MLP e um conjunto de catálogos das exposições temporárias do museu.
Os trabalhos deverão ser entregues até 30 de setembro de 2009. É hora de tentar criar uma frase de efeito. Desejo-lhes boa sorte !
Regulamento nos sites: www.museudalinguaportuguesa.org.br e www.poiesis.org.br

Quem sou eu

Mirian Rodrigues Braga é mestre e doutora em Língua Portuguesa pela PUC/SP. Especializou-se em analisar as obras de José Saramago. Em 1999, publicou A Concepção de Língua de Saramago: o confronto entre o dito e o escrito e também participou da coletânea José Saramago - uma homenagem, por ocasião da premiação do Nobel ao referido autor. Em 2001, publicou artigo na Revista SymposiuM da Universidade Católica de Pernambuco. Atuou como professora-assistente no Curso de Pós-Graduação lato sensu da PUC/SP. É professora de Língua Portuguesa e Redação no Ensino Médio e Curso Pré-Vestibular do Colégio Argumento.