sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

As três redações da Unicamp 2011

Achei muito oportuna a modificação prevista para o exame da Unicamp de 2011, relativamente à redação. É a chance de o bom candidato mostrar sua capacidade de escrever e de expressar-se em qualquer modalidade redacional. Para tanto, é necessário conhecer bem as estruturas de cada modalidade, ler muito, ter criatividade, e treinar, e treinar, e treinar.
Acredito que a Unicamp, sempre muito atenta às situações do cotidiano e às suas implicações, vem contribuindo, significativamente, não só para a mudança de paradigma do exame vestibular, como também para a construção de uma nova forma de pensar a aquisição de conhecimento. Ponto para a Unicamp, ponto para a Educação!!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Uma preposição maltratada

Sabemos que preposição é palavra invariável que relaciona dois termos de uma oração; no relacionamento, o sentido do primeiro (antecedente) é explicado pelo segundo ( consequente).
Com a preposição entre ocorre o engano comum do uso indevido de a em lugar do e para estabelecer a relação.
Exemplificando: " Havia entre 50 mil a 60 mil pessoas no parque." o a entrou aí indevidamente. A relação estaria formalmente perfeita, assim: " Havia entre 50 mil e 60 mil pessoas no parque."
Portanto, a conjunção e revela-se a acompanhante mais adequada para a preposição entre.
Fica aqui a sugestão: jamais usar " entre uma coisa a outra" e, sim,
" entre uma coisa e outra".
Cecília Meireles dá-nos a pista para essa questão nos versos:
Entre esta porta e esta ponte,
fica o mistério parado.

sábado, 21 de novembro de 2009

Muita sorte!!!

Aos meus alunos: sorte, muita sorte e força para vencer mais um obstáculo de suas vidas, isto é, FUVEST. Estarei torcendo por vocês. Não poderia deixá-los sem beijinhos em seus corações e muiiitos abraços, Mirian.

domingo, 15 de novembro de 2009

" Gerações" - Unicamp

A primeira fase da Unicamp elegeu Gerações como tema geral. Relativamente à redação, propuseram-se três recortes desse tema.
Mais uma vez, suspirei aliviada, já que, neste ano, as propostas de redação de nossa apostila contemplaram, de certa forma, alguns temas recorrentes ao da proposta da Unicamp. Acredito que nossos alunos conseguiram sair-se bem.
Àqueles que não fizeram o vestibular da Unicamp, sugiro que conheçam a proposta e façam a redação na modalidade dissertativa (principalmente para os alunos que terão Fuvest pela frente).

domingo, 1 de novembro de 2009

Virada Russa

A vanguarda russa na coleção do Museu Estatal Russo de São Petersburgo pode ser apreciada em São Paulo. Vale muito a pena ir ao Centro Cultural Banco do Brasil e verificar.
A exposição Virada Russa está dedicada a mostrar movimentos artísticos transgressores do início do século XX , mais especificamente, no contexto da Revolução Russa em que os gestos dos vanguardistas russos assumem uma dimensão ainda mais extraordinária, pelo fato de emergirem de um cenário histórico em que a urgência das mudanças polarizava todos os setores da sociedade, ávida por transformações.
Nesse cenário, dialogam obras representativas de gênios como Wassily Kandinsky ( 1866-1944 ), um dos precursores do abstracionismo, Mac Chagall e Pavel Filónov, autor de poderosas telas de inflexão cubista.
Mas é Kazimir Maliévitch o artista homenageado em Virada Russa, talvez por ser o que reflita o espírito de vanguarda de modo mais significativo.
Sem dúvida, Virada Russa é a maior e mais significativa exposição já realizada no Brasil sobre as vanguardas russas, com um acervo até então apenas acolhido por grandes museus da Europa.
O Centro Cultural Banco do Brasil fica na rua Álvares Penteado, 112, centro. A exposição vai até 15 de novembro.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Qual a lógica da pontuação?

A dificuldade com a pontuação é democrática : milhões de brasileiros compartilham da mesma agrura.
O problema ( ou solução ) da pontuação é sintático. Quando fazemos a escolha das palavras e expressões que comporão a rede do texto, precisamos lançar mão de uma lógica de pontuação, para que cada oração, ou elemento a destacar, diga realmente o que tem a dizer. Um erro de pontuação pode pôr tudo a perder.
Assim, para pontuar corretamente, é preciso reconhecer a estrutura sintática do texto. Se você sabe qual é o sujeito, o objeto direto, o objeto indireto, o agente da passiva e tantas outras funções sintáticas numa oração, não cometerá erros de pontuação, como, por exemplo, separar com a vírgula o sujeito de seu verbo; o objeto direto do verbo que ele completa etc.
Pontuação é realmente uma lógica e até uma logística sintática. Não se jogam no texto, aleatoriamente, vírgulas para lá, dois pontos para cá, como se fossem temperos de salada.
Observamos que as grandes dificuldades se concentram no uso da vírgula. Numa perspectiva mais panorâmica, é correto dizer que há um uso sintático e um uso individual da vírgula. Este seria mais uma espécie de tentativa de embelezamento do texto ou de enfoques pessoais, destacando-se, por exemplo, elementos enfáticos ou que deem maior elegância ao enunciado. Já o uso sintático, em princípio, marca elementos do texto que atuam no campo semântico e tende, portanto, a garantir que esses elementos sejam portadores da mensagem que o enunciador pretendeu evidenciar.
Vamos a alguns exemplos de um e de outro uso:
Uso estilístico:
Talvez, eu tenha esclarecido a dúvida do aluno.
Hoje, escreverei sobre outro assunto.
Separar pela vírgula esses advérbios Talvez e Hoje é uma questão de estilo individual e não obrigatória. As orações ficariam corretas com ou sem vírgulas.
Uso sintático:
Repare: " O candidato falou naturalmente." e " O candidato falou, naturalmente."
Veja como o emprego da vírgula faz com que as mensagens sejam diferentes. No primeiro caso, exprime-se que o candidato falou com naturalidade; no segundo, ao se colocar a vírgula, passa-se a mensagem afirmativa de que é óbvio que o candidato falou. É tão forte a diferença de mensagem que, no primeiro caso, naturalmente é advérbio de modo; no segundo, advérbio de afirmação. Não usar a vírgula aqui corresponde a deixar de transmitir o que se quer.
Há casos corriqueiros e obrigatórios do uso da vírgula, como separar o local da data ( São Paulo, 21 de maio...), o vocativo ( João, venha aqui!) etc., portanto, de emprego prático ou normativo. Em outra ocasião apresentarei mais alguns comentários a respeito da pontuação.
Fica aqui minha sugestão: sempre que recorrer aos sinais de pontuação, certifique-se de que eles estejam contribuindo, efetivamente, para a produção de sentido que você pretendeu dar a seu texto.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Laboratório Gramatical

Contrariamente ao que a maioria das pessoas pensa, as regras (as leis) que regem a língua podem ser testadas. Sírio Possenti mostra-nos que isso é possível da mesma maneira que se aplicam as regras da Física e da Química, em certo sentido, isto é, mudando-se uma das variáveis em um experimento qualquer, o resultado poderá ser diferente.
Consideremos, por exemplo, o caso dos chamados adjetivos com função de advérbio, em exemplos como Ele anda rápido. Em aula, o professor pode querer convencer o aluno de que "rápido" aqui é advérbio ( com função de adjunto adverbial e não de predicativo do sujeito).
É perfeitamente possível provar que se trata de um advérbio. Para tanto, basta alterar uma variável. O procedimento é simples. Se for predicativo do sujeito, "rápido" concorda com o sujeito. Dado que esse exemplo é como é, o teste é inútil, porque tanto se pode dizer que "rápido" concorda com "ele" quanto que é um advérbio, porque é invariável. O teste consiste, pois, em mudar o sujeito. Em vez de "ele", tente-se com "ela" ou com "eles". Se o sujeito for assim alterado, o resultado será:
Ela anda rápido.
Eles andam rápido.
Nesses casos, se houvesse concordância, ela seria visível:
Ela anda rápida.
Eles andam rápidos.
Claro essas orações são do português. Mas o teste exige que se mude uma variável de cada vez, para não perder o controle do experimento. Para tanto, a mudança do sujeito não pode ser acompanhada da mudança de sentido do verbo.
No primeiro caso, quando "rápido" não se flexiona, "andar" significa 'caminhar', 'deslocar-se'. No segundo, quando se trata de predicativos do sujeito, "andar" denota um estado (dela ou deles) - e "anda rápido" pode ser parafraseado por "está(ão) rápida(os)".
Também pode-se testar a função de 'rápido' substituindo por "rapidamente". É outra forma de mostrar que se trata de um advérbio, mas ela é menos evidente, depende mais da intuição do que da demonstração.
Assim, construir (ou estudar) uma gramática não é apenas aceitar que determinada construção tem um valor ( certo, por exemplo), e que outra tem outro ( errado, digamos). Trata-se de uma atividade de conhecimento muito semelhante à produzida em outros campos, mesmo os chamados tradicionalmente de científicos.
As gramáticas são teorias da língua e, eventualmente, para compreendê-las ou construí-las, é necessário eliminar o senso comum.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Passarinho verde

A origem da expressão, segundo Márcio Cotrim, é aplicada aos apaixonados. " Ver passarinho verde" lembra aquelas pessoas que, sem nenhum motivo aparente, demonstram exagerada alegria. De fato, verde é a cor da esperança - mas e daí? O que o passarinho tem a ver com isso?
A ave em questão é o periquito, que, antigamente, era muito usado para carregar em seu bico mensagens entre casais apaixonados. Assim, avistar o delicado animalzinho seria, por assim dizer, equivalente a localizar o portador dos segredos amorosos; ou ainda, a visão daquele que alimenta nossa deliciosa expectativa de boas notícias em relação ao ser amado.
Sabe-se que esse tipo de relacionamento foi objeto de uma famosa lenda, segundo a qual as moças avisavam os namorados sobre o envio de cartas de amor, colocando um periquito perto da grade da janela. Hoje, esse ato tão lírico e romântico caiu em desuso no bruto e insensível mundo em que vivemos.
Nesse mundo, porém - e felizmente -, ainda sobram pequenas frestas de ternura. São elas que nos estimulam a não perder as esperanças por completo no que diz respeito a esse sentimento.
Afinal, como todos nós sabemos, a esperança é a última que morre, mas também a primeira que nasce...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Quando a crase muda o sentido

Em artigo recentemente publicado na revista Língua Portuguesa, Luiz Costa Pereira Júnior comenta alguns tópicos de uso de crase que merecem nossa atenção.
Sabemos que o uso da crase costuma desconcertar muita gente, mas se pensarmos em uma função, dentre muitas, de desambiguizar certas construções, aceitaremos que conhecer alguns casos previstos pela norma culta da língua ajudarão o nosso cotidiano.
O acento grave (`) no a tem duas aplicações distintas: a primeira, sinalizar uma fusão de a ( artigo) + a preposição; a segunda, evitar ambiguidade, sinalizando a preposição a em expressões de circunstância com substantivo feminino singular, em que indica que não se deve confundi-la com o artigo a. Ex: " Dilma Rousseff depôs à CPI." Sem a crase, a frase hipotética se revela ambígua: Dilma destituiu a comissão parlamentar de inquérito ou apenas deu depoimento à comissão? O sinal da crase tira a dúvida.
Por isso, a crase é, antes de mais nada, um imperativo de clareza.
Muitas frases em que a preposição indica circunstância ( instrumento, meio etc.) em sequências do tipo " preposição a + substantivo singular", podem dificultar a interpretação por parte do leitor ou ouvinte. Não raro, a ambiguidade se dissolve com a crase - em outras, só o contexto resolve.

Vejamos alguns exemplos de casos em que a crase retira a dúvida de sentido da frase:
Cheirar a gasolina (aspirar) X cheirar à gasolina ( feder a).
A moça correu as cortinas ( percorrer) X A moça percorreu à cortina (seguiu em direção a ).

O homem pinta a máquina (usa pincel nela) X O homem pinta à máquina ( usa a máquina para pintar).
Referia-se a outra mulher ( conversava com ela ) X Referia-se à outra mulher ( falava dela).
Fiz aqui um recorte do assunto, para sugerir que, em crase, a intuição e a generalização de exemplos concretos podem ser mais efetivas que a " decoreba" de regras.
Se intuímos a regra básica de que só se usa crase diante de palavras femininas quando há a preposição seguida de um artigo, evitamos ocorrências como " à 80 km", " à correr" ou " à Pedro". Afinal, nunca pensamos em crase com palavras masculinas ou verbos: daí não haver em "a lápis", " a contragosto", " a custo ".
Se lembrarmos que a crase serve para eliminar a ambiguidade, também evitamos tirar o acento indicador da crase em contextos que pedem, por exemplo, " à beira", " à boca miúda", " à caça". Acredito que assim fica muito mais fácil pensar em crase - um assunto que pode tirar o sono de muita gente.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A redação ideal para o ENEM

O momento ansiosamente esperado está chegando. Finalmente, no próximo final de semana o ENEM mostra sua cara!
Aí vai minha sugestão para uma redação que se aproxima da idealizada pelo ENEM:
- a temática mais voltada para o social propõe abordagens como violência, política e educação. O candidato não pode se esquecer dos cinco conceitos explorados na prova objetiva, que, justamente, são os principais pontos que diferenciam essa prova das demais;
- ainda que tenha uma estrutura semelhante às redações de outros vestibulares, o texto a ser redigido na prova do ENEM exige raciocínio mais homogêneo e completo, isto é, o aluno deve saber perceber os acontecimentos como um todo, não como informações isoladas;
- quanto ao domínio da linguagem, aplicada à redação, significa fazer uso da norma culta da língua, já que serão cobrados alguns aspectos linguísticos, tais como concordância verbal e nominal, pontuação, ortografia e acentuação;
- é fundamental compreender a proposta e aplicar conceitos conhecidos para desenvolver o tema. Para isso, o candidato deve saber selecionar e hierarquizar o seu conhecimento;
- é preciso saber construir um argumento consistente e defender um ponto de vista;
- ao desenvolver o tema apresentado, o candidato deve incluí-lo num contexto de diversidade cultural e respeito aos valores humanos e apresentar propostas de intervenção solidária efetiva.
Em síntese, o que o ENEM espera do candidato é que ele se mostre um cidadão que reflete sobre os problemas que afetam a sociedade, e, portanto, desenvolva uma opinião e aponte soluções.
Boa sorte a todos. E.. beijos em seus corações.

sábado, 26 de setembro de 2009

Sentido desigual

Devemos estar atentos às diferenças de sentido entre adjetivos que, às vezes, se confundem. Vejamos: a palavra normal nem sempre é bom sinônimo de comum. Em algumas situações há sutil diferença de sentido. Até porque não há sinonímia perfeita, sabemos todos. Normal é aquilo que está de acordo com a norma. Comum é o que pertence a todos ou a muitos igualmente.
A qualificação anormal costuma ser mais forte do que a de incomum. A percepção dessa diferença não é a mesma entre os adjetivos comum e normal. Mas cada um remete ao antônimo: comum/incomum; normal/anormal.
Observemos alguns exemplos de emprego indevido desses adjetivos:
É um carro de alta potência, mas serve também para um motorista normal.
Em que será diferente um motorista normal de um anormal? E um comum de um incomum? O mais conveniente é usar comum, motorista comum, porque anormal pode-nos sugerir um de quatro braços e olho no meio da testa.

Trata-se de um vinho normal.
Como será um vinho anormal? Terá 40º de teor alcoólico, em vez dos 11º a 14,5% dos comuns?Será feito de feijão fermentado? Ou custará muito caro? Como no caso anterior, melhor usar comum, que o será tanto na qualidade como no preço, se não for possível explicar no que consiste a tal normalidade.


Ele é um aluno normal.


Aluno normal? Normal no tamanho, nas dimensões, na capacidade intelectual? E se for anormal? Será um gênio com 245 de QI, ou um prejudicado com 34,5 de QI? Também aqui, melhor usar comum, designando alguém que não se distingue da maioria, apesar da imprecisão do adjetivo.



domingo, 20 de setembro de 2009

Inventando o Hino Nacional

Nesta semana, a cantora Vanusa ressurgiu das cinzas quando interpretou, de modo inusitado, o Hino Nacional Brasileiro em uma cerimônia na Assembleia Legislativa de São Paulo. Para não esquecermos tão "memorável" momento, o vídeo do acontecimento tem corrido pela internet. A voz da cantora mostra-se arrastada, e a certa altura, atrapalha-se e mistura a letra de alguns versos de nosso hino, provocando um estranho resultado.
O que eu gostaria de registrar é o fato de que o inalcançável significado das palavras e a sonoridade que desassocia a melodia da letra transfere-nos para um universo em que a realidade se perde numa nebulosa onírica. Tal ocorrência remete-nos ao chamado jabberwocky, isto é, um texto brincalhão, composto em linguagem inventada, mas parecendo real, sonora e sem sentido.
Seja lá o que tenha acontecido no momento da interpretação da cantora, Vanusa perdeu a oportunidade de reconquistar um triunfal regresso, e o que se vê no vídeo é um efeito jabberwocky para uma multidão de brasileiros com ouvidos destreinados para os preciosismos parnasianos em que à sonoridade das palavras, contrapõe-se um misterioso significado.
Fica aqui minha sugestão: ler calmamente o Hino Nacional Brasileiro e procurar entendê-lo. (é lícito recorrer ao dicionário).

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Epônimos

Os epônimos são palavras ou expressões inspiradas em nomes de pessoas. Eles são linguisticamente úteis, pois no dia a dia os usuários precisam de "ganchos" para não usar o nome completo de um indivíduo nas suas interações. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, cuja nova edição foi lançada este ano pela Academia Brasileira de Letras, legitima epônimos como " lulista" ou " lulismo " para descrever características ligadas à pessoa, aos simpatizantes ou à política do presidente Luiz Inácio da Silva.
Os epônimos distinguem-se do vocabulário geral de um idioma, pois um dado usuário, num dado momento, cunha uma palavra para referir-se a um indivíduo, criando um neologismo. É um tipo de neologismo que nem os críticos mais nacionalistas teriam coragem de atacar com base na tese de invasão cultural, já que preenche uma lacuna no idioma. Assim, em vez de dizer José Serra, Guimarães Rosa ou Dante Alighieri, podemos usar " serrista" ou "serrismo", " a obra rosiana" ou " um cenário dantesco".

Alguns dos epônimos que foram " emprestados" de outras línguas nasceram nos tempos bíblicos ( jerimiada, salomônico, matusalênico), outros da mitologia grega (espada de Dâmocles, narcisismo) e muitos devem sua presença, na escrita, a avanços técnico-científico: galvanismo ( Luigi Galvani, 1739-1798), contador de Geiger ( Hans Geiger, 1882-1945), e todos eles contribuem para enriquecer o idioma.
Embora a maior parte dos epônimos nos dicionários de português sejam de origem estrangeira, há os brasileiros. Nem todos se lembram do aparelho inventado por Manuel de Abreu ( 1894-1962), que fixou, por máquina fotográfica, uma imagem radioscópica para diagnosticar a existência precoce de tuberculose ou de câncer pulmonar. Muito comum nas décadas de 60 e 70, a exigência de uma "abreugrafia" para a obtenção de um emprego foi suspensa nos anos 80 devido ao perigo para a saúde da radiação mesmo em pequenas doses.
O estudo do epônimo é importante na língua portuguesa, pois os autores de textos literários, de crônicas e ensaios de revistas e periódicos e até os editoriais de jornais recorrem aos epônimos e às alusões clássicas, bíblicas e literárias. As expressões eponímicas são marcas do bom escritor quando usadas adequadamente num texto.
Quer saber mais: www.revistalingua.com.br

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Matisse na Pinacoteca do Estado

Está imperdível a exposição Matisse Hoje, inaugurada dia 5 de setembro na Pinacoteca do Estado. A exposição é montada de forma simples e traz uma mescla das diferentes fases do pintor.
Matisse Hoje reúne 93 trabalhos - gravuras, pinturas, esculturas, desenhos e colagens - em torno da obra do célebre pintor francês Henri Matisse (1869-1954), que nunca havia ganhado uma individual no Brasil, e promete ser a mais importante exposição do ano.
Para evitar longas filas, a sugestão é chegar cedo. Horário: das 10h às 17h30. Até 01/11.
Vale muito a pena. Programe-se!
A Pinacoteca do Estado fica na praça da Luz, 2, Bom Retiro.

sábado, 5 de setembro de 2009

Concurso Idiomaterno

A Secretaria de Estado da Cultura, por meio da Poesis - Organização Social de Cultura e do Museu da Língua Portuguesa - promove o concurso Idiomaterno - uma definição para a Língua Portuguesa. O objetivo é revelar e premiar as dez frases originais que melhor traduzam a língua portuguesa.
As frases escolhidas serão grafadas em uma parede do Museu da Língua Portuguesa, e seus autores receberão exemplares do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, ingressos para visitarem o MLP e um conjunto de catálogos das exposições temporárias do museu.
Os trabalhos deverão ser entregues até 30 de setembro de 2009. É hora de tentar criar uma frase de efeito. Desejo-lhes boa sorte !
Regulamento nos sites: www.museudalinguaportuguesa.org.br e www.poiesis.org.br

domingo, 30 de agosto de 2009

Próximo livro de Saramago: Caim

Antes mesmo de publicar seu próximo livro Caim, previsto para outubro de 2009, José Saramago está mais uma vez no centro de uma polêmica discussão que envolve os dogmas cristãos e seu trabalho de ficcionista.
Em Caim, o autor redime o personagem bíblico do assassinato do irmão Abel e credita a Deus a autoria intelectual do crime , ao depreciar o sacrifício que Caim Lhe havia oferecido.
Sabemos que Saramago é ateu confesso e que já criou grandes desafetos com a comunidade católica ao lançar e 1991, O Evangelho Segundo Jesus Cristo. Ali, conta a história do filho de Deus sob a ótica mais terrena, anticlerical, humanizando Cristo ao evidenciar seu caráter frágil e vulnerável.
Apesar de retomar o mesmo estilo feroz e iconoclasta, Saramago diz não temer ser novamente crucificado ao lançar Caim.
Agora é só esperar o lançamento, ler e avaliar o trabalho que o exímio ficcionista ( Nobel de Literatura) conseguiu fazer, entretecendo dados bíblicos com ficção. Espero
que, longe de credos e crenças, seu livro seja avaliado como obra literária que efetivamente é.

domingo, 23 de agosto de 2009

Das relações entre língua e mundo

As gramáticas, explícita ou implicitamente, tratam das relações entre a língua e o mundo. Muitos estudiosos dedicam anos de pesquisa sobre essas relações, e Sírio Possenti é um deles. Em seu texto: Gramática - os diversos contextos - apresenta um caminho extremamente didático sobre como entender essa proximidade. Apresento algumas sinalizações que julguei interessantes.
É importante perceber que as relações entre língua e mundo existem, mas não são diretas. Ou seja, uma língua não reflete o mundo " como ele é ". A relação é mediada pela cultura. Podemos dizer que cada língua é uma visão de mundo particular. Esse fato se revela mais claramente no léxico do que na sintaxe. Por exemplo, os sistemas de parentesco ou os nomes das cores são bastante diversos conforme as diferentes línguas.
Mas, em alguns casos, a concepção de mundo ajuda a compreender aspectos da sintaxe. Vejamos alguns exemplos:
  • os verbos de ação ( correr, andar, atirar etc.) , em princípio - a não ser que se trate de figuras de linguagem ( metáforas, personificações etc.) - , só podem ter sujeitos animados, ou seja, nomes que designem indivíduos ou grupos de indivíduos que concebemos como animados. Por isso, consideramos normal O tigre perseguiu o coelho, mas achamos estranha *A alface perseguiu a vaca. ( O * indica uma construção que não existe na língua).
  • Se os verbos não admitem sujeitos de certo tipo ( por exemplo, inanimados), esse critério pode ajudar a definir, por exemplo, a classe dos verbos auxiliares. Um auxiliar não interfere na seleção de um sujeito, que é sempre feita pelo verbo principal. Assim, estranhamos * O queijo leu Os Lusíadas, também estranharemos * O queijo vai ler Os Lusíadas. No entanto, se dizemos corretamente Este queijo cheira mal, também diremos Este queijo vai cheirar mal. ( Observemos também que, se o verbo é ler, não basta que seu sujeito seja animado; é preciso também que seja humano. Por isso, também seria estranha uma frase como * O bezerro leu Olavo Bilac.
  • Usualmente, em relação aos verbos, as gramáticas e dicionários se preocupam apenas em explicitar sua regência, ou seja, o tipo de relação com seus complementos - se é direta ou indireta. Mas há outros fatores envolvidos, e estes estão até mais relacionados a aspectos culturais. Assim, por exemplo, o objeto de um verbo como beber é, tipicamente, uma palavra ou expressão que designa líquido. Por isso, consideramos normais frases como Ele não bebe coca-cola de jeito nenhum, mas é bem provável que víssemos com alguma estranheza * Ele não bebe carne malpassada.
  • Quando as frases estão em ordem direta, não há dificuldade alguma em identificar sujeito e objeto. Mas, se houver alguma inversão, pode ser que a solução esteja na consideração dos aspectos culturais. Por exemplo, a frase O frango o cozinheiro assou, saberemos que o sujeito é O cozinheiro, porque, tipicamente, cozinheiros assam frangos, e não o inverso. É claro que, se a frase for O menino o cachorro matou, o problema é mais complicado. Sua solução deve ser procurada em outro lugar, usando outros critérios ( em outro ponto da narrativa, por exemplo), porque ambos, em princípio, podem matar e ser mortos pelo outro.

Por tudo isso, devemos estar atentos não só ao conhecimento enciclopédico, mas também às relações da língua com os aspectos culturais.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O gerundismo " do bem "

É preciso combater o gerundismo, mas cuidado para não tornar marginais os usos legítimos de locuções no gerúndio.
O emprego viciado de formas como " vou estar passando o recado " pode estar longe de ser erradicado, já que há uma década esse fenômeno se propaga feito gripe pelo país; no entanto, o exagero do combate pode levar a distorções comunicativas, visto que não dá para condenar o uso do gerúndio sem examinar seu contexto.

O uso do gerúndio é válido quando:


  • Se quer mostrar um futuro em relação a outro futuro: " Amanhã não posso viajar porque vou estar carimbando documentos" significa que vou passar o dia a carimbar. Em "Hoje à noite, vou estar vendo novela enquanto você vê futebol ", temos situações diferentes feitas simultaneamente e admitem locução com gerúndio. Em " Quando você chegar, eu vou estar dormindo", a ação de " dormir " é contínua e simultânea. O uso está inserido no sistema da língua. É legítimo.
  • O verbo implicar duração ou admitir repetição: " Vou estar fechando o balanço da empresa" está correto, mas " vou estar enviando o documento " é estranho. É um documento só e a ação é relativamente rápida ou instantânea. Já em " Amanhã, vou estar apertando parafusos o dia todo ", a frase descreve ação contínua e repetida. Voltarei a apresentar mais casos sobre o uso do gerúndio. Até mais!
  • Se quiser saber mais acesse: www.revistalingua.com.br

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Português on-line na Inglaterra: sites para intercâmbio de idiomas têm ajudado a melhorar o português dos ingleses
Parece que o charme cosmopolita de Londres é resultado de um inglês falado misturado a dezenas de outros idiomas. Segundo o livro Multilingual Capital, são falados mais de 300 idiomas na capital britânica, só entre crianças em idade escolar. O português está entre os 15 mais comuns, fato que não surpreende, já que são estimados 60 mil brasileiros por lá.
Uma amostra dessa realidade tupiniquim no coração da Inglaterra, e da vitalidade do idioma no ambiente londrino, está retratada no filme Jean Charles. Apesar do episódio trágico, a história registra de forma quase documental o cotidiano de estrangeiros espalhados por uma cidade que conta com imigrantes de todo o mundo. Há uma febre britânica de sites de relacionamento especializados no intercâmbio de idiomas. Ao menos cinco deles criaram comunidades em que estrangeiros residentes na Inglaterra, como a comunidade brasileira, ensinam o próprio idioma em troca de aprender outras línguas.
Longe de se constituir em portais de encontros, experiências on-line do gênero têm virado uma opção de aprendizado em Londres. De um meio para fazer novas amizades, surgem caminhos para a ampliação da Língua Portuguesa.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O português no ENEM: As novas exigências em português e redação que podem valer vaga no ensino superior.

Ver o ENEM como se fosse vestibular é um jeito de o MEC sinalizar outro tipo de formação ao ensino médio, voltada para a solução de problemas em vez de acúmulo de conteúdo. Dessa forma, o exame passa a forçar o ensino básico a trabalhar conteúdos de linguagens atuais e próximos do cotidiano do aluno, na apropriação do conhecimento voltado para uma finalidade, para seu uso social.
A consequência direta desse raciocínio é que os critérios de avaliação de língua portuguesa e redação do ENEM seguem a tendência de medir competências e habilidades, não tanto a terminologia dominante nos estudos de gramática. Isso implicará uma avaliação que não priorize a mera identificação, decodificação, classificação e nomeação dos fenômenos e objetos estudados, mas privilegie o uso da língua portuguesa nas mais diversas situações de comunicação, em que os elementos linguísticos, textuais, discursivos e conceituais contribuam para o raciocínio, a análise, a interpretação e as inferências do aluno.
Nas provas objetivas, de marcar "x", não só os conhecimentos do léxico da língua portuguesa e das relações lógico-semânticas serão cobrados, como também a capacidade de realizar cálculos pragmáticos a fim de descobrir a intenção dos textos. O aluno deve dominar os vários mecanismos sintáticos e saber utilizar adequadamente os sinais de pontuação, as formas de concordância verbal e nominal, os aspectos e modos de conjugação dos verbos, elementos de referência pessoal, espacial e temporal. (Imagina-se que não serão pedidas somente as nomenclaturas desses fenômenos, mas seu funcionamento na língua).
Já a redação deverá ser estruturada na forma de texto em prosa do tipo dissertativo-argumentativo, a partir de um tema de ordem social, científica, cultural ou política. Espera-se que o candidato revele sua competência discursiva que o capacite a se constituir sujeito usuário da língua, dotado de autonomia, de reflexão, de posição responsiva.
Os critérios para a avaliação da redação foram baseados nas cinco competências da prova objetiva ( dominar linguagens, conhecer fenômenos, enfrentar situações-problemas, construir argumentação e elaborar propostas de solução levando em conta os direitos humanos e a diversidade sociocultural).
Atentos às sinalizações inovadoras do ENEM, é hora de redobrar nossa atenção aos estudos. Sucesso a todos!!!
Quer saber mais : www.revistalingua.com.br

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Visita ao MLP

Visitar o MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA - MLP - é, sem dúvida, uma atividade complementar para a vivência de nosso patrimônio linguístico. É uma oportunidade de conscientização do que é ser brasileiro e falante desta língua, de nosso berço e do mundo.
Por tudo isso, o Colégio Argumento agendou uma visita guiada ao MLP para o dia 21 de agosto.
Informações mais detalhadas serão dadas em sala de aula. Aguardem!!

Quem sou eu

Mirian Rodrigues Braga é mestre e doutora em Língua Portuguesa pela PUC/SP. Especializou-se em analisar as obras de José Saramago. Em 1999, publicou A Concepção de Língua de Saramago: o confronto entre o dito e o escrito e também participou da coletânea José Saramago - uma homenagem, por ocasião da premiação do Nobel ao referido autor. Em 2001, publicou artigo na Revista SymposiuM da Universidade Católica de Pernambuco. Atuou como professora-assistente no Curso de Pós-Graduação lato sensu da PUC/SP. É professora de Língua Portuguesa e Redação no Ensino Médio e Curso Pré-Vestibular do Colégio Argumento.